T’Ootje / a avó (Volendam, Países Baixos). Estatuária urbana – a cidade é um museu.

Em chegando à histórica vila piscatória de Volendam, nos Países Baixos, percebemos nas ruas pitorescas que atravessamos em direcção ao porto o buliço turístico que marca o dia-a-dia desta localidade.

montagem.JPG

Já no porto, encostada ao varandim da marginal do Markermeer, contemplamos a bonita estátua pedestre ‘t Ootje. Em pose de anfitriã, a imagem escultórica enquadra a beleza das águas calmas repletas de barcos à vela e o colorido casario que pintam o passeio marginal.

nl-representaçao figurativa de mulher-volendam-03.JPG

Com um repousante sorriso na expressão e mirando as águas do Mar do Norte, limitadas pelo lago artificial Markermeer,  que banham este bonito espaço da costa de Volendam,  a estátua pedestre ‘t Ootje é uma obra em bronze da escultora Jans van Baarsen, datada de 2000, e que apresenta a figura de uma mulher em traje regional.

nl-3-vistas-da-mulher-volendam.jpg

A figura feminina em trajes típicos holandeses onde sobressaem os sapatos comuns a toda a Holanda e a touca típica de Volendam é uma representação visual da ‘avó’ na tradição local, evocada pelo conceito visual e pela memória na representação linguística. Perante o conceito visual que apresenta uma figura feminina com alguma idade e com os atributos notados na tradição etnográfica local, observamos no título da estátua pedestre ‘t Ootje, apoiada no varandim do passeio marginal, a representação da ‘avó’.

montagem.jpg

Efectivamente, ‘t Ootje é um termo dialectal de Volendam que significa ‘avó’, tal como descrito na página online da escultora Jans van Baarsen, autora desta estátua urbana:

“Aan de haven van Volendam werd het bronzen standbeeld ‘t Ootje van Jans van Baarsen onthuld.’t Ootje is het derde beeld van de Volendamse kunstenares dat een plek krijgt in het vissersdorp. Twee jaar terug kreeg de Bap (Opa) een plek op een zitbankje iets verderop aan de haven en vorig jaar november de tweelezende kinderen op het Pellersplein. Ootje staat in het Volendamse dialect voor Oma.”.  [Tradução nossa: “No porto de Volendam foi inaugurada a estátua de bronze ‘t Ootje de Jans van Baarsen. ‘t Ootje é a terceira imagem da escultora de Volendam que ganhou um lugar na pequena vila de pescadores. Há dois anos atrás foi colocada a estátua de Bap (avô) sentada num banco ao pé do porto […] Ootje significa no dialecto de Volendam avó.”Cf. Jans van Baarsen http://www.jansvanbaarsen.nl/ 02.11.2009]

Reparamos no pequeno texto supra na página da escultora que a realização linguística Oma é um termo actual ainda hoje comum em toda a região germânica, i.e. dos Países Baixos à Alemanha, sendo que o mesmo constitui uma forma de falar afectiva sobretudo usada pelas crianças, tal como indicado no dicionário de alemão Pfälzisches Wörterbuch:

“Oma f.: ‘Großmutter’, Oma (ōma, ōmā) [verbr.]; vgl. Omama ; Syn. s. Großmutter ; im Ggs. zu Alt-, Großmutter, Mutter 1c, Groß(chen) ist Oma (wie auch Opa) um 1930 noch wenig gemeldet und gilt meist als kindersprachlicher Ausdruck, während es heute die vorherrschende Bezeichnung ist. Südhess. IV 1095; Rhein. VI 398; DWA XXI 1.“ (Pfälzisches Wörterbuch. Band 5, Spalten 260 – 264).

A obra de estatuária urbana ‘t Ootje constitui um meio de preservação e salvaguarda da memória etnolinguística local manifesta no discurso scripto-visual através dos elementos etnográficos do traje típico de Volendam e no título da imagem que é uma representação linguística dialectal local do termo Oma (avó). O enquadramento narrativo é ainda complementado pela apresentação a poucos metros de distância da imagem paternal do ‘avô’ de Bap em vestes regionais, realçando-se os sapatos e o chapéu de pescador.

nl-rt'tootje-baap-volendam.jpg

A estatuária implantada no tecido urbano é um meio de conhecermos o património cultural local e com ela podemos preservar a memória e transmitir a história.

A estatuária urbana é um valor estético e um instrumento educativo da cultura e da história que torna os locais em verdadeiros museus ao ar livre.

Obs.:
Embora os Países Baixos sejam um país de pequenas dimensões, reconhece-se a existência de muitos dialectos e variantes linguísticas. Realmente, nos Países Baixos encontramos diferentes variantes linguísticas, tais como o frísio na região da Frísia, o Grunnings em Groningen, o Limburgan no Limburgo, o Vlaams mais próximo da zona de fronteira com a Bélgica, o Dutch, considerado a língua padrão do Reino dos Países Baixos e que difere ligeiramente do flamengo falado na Bélgica, entre outros, tal como documentado no Ethnologue. De qualquer modo, é interessante notar que a maior parte destes dialectos têm mais de 60% de semelhanças lexicais com o alemão padrão e mais de 50% de semelhanças lexicais com o inglês. (Cf.: Ethnologue – Languages of the World – Dutch A language of Netherlands.).

[Fotografia e arranjo gráfico de João Filipe Vieira]
Esta entrada foi publicada em Uncategorized. ligação permanente.

Deixe um comentário